quarta-feira, 30 de junho de 2010

“Não é surpreendente que Copérnico tenha esperado décadas até ter tido a coragem de denunciar os erros do mundo. Sabia que sua obra teria sérias repercussões. Uma nova cosmologia implicaria uma nova visão de mundo; uma nova visão de mundo, por sua vez, implicaria um lugar diferente para o homem no cosmo, numa nova explicação para quem somos e qual o sentido da vida.”

Como já dizia Kepler, “o astrônomo e o jogador de poker buscam a explicação matemática para os fenômenos naturais.”

Ano de 2010. Há anos se temia os Deuses do Poker. Há anos se temia o tal cabrum punitivo. “Nossa, o Leo falou que vai ganhar. Se fudeu.”

Segundo Mauro, havia algo de errado nessa crença. Por que entidades superiores que criaram um jogo de disputa tão divertido seriam tão rabugentos? Por que não poderíamos brincar também com os Deuses, como se fossem nossos camaradas? Por muito tempo, Mauro buscou dados que refutassem a Era do Medo.

A história desse grande homem ganha fama a partir de um elegante experimento. Em uma semana, usou arrogância via email e disse que daria uma surra em todos os adversários. Deu mesmo. Um fato inesperado, claro, mas que pouco provava em relação à atitude dos Deuses do Poker. Afinal, eles também estão sujeitos ao acaso.



Figura: Nicolau Copérnico desenhando seu primeiro baralho de poker.

Para obter a prova final de que os Deuses não são rabugentos e, sim, fanfarrões, decidiu repetir a arrogância. Dessa vez, o jogo era diferente: mais fichas, mais tempo de second chance, mais cerveja de litro. Se Mauro desse outra surra em seus colegas, se conseguisse o bicampeonato arrogante, iria alterar o rumo do poker mundial de maneira irreversível.

Com 1000 cebeletas, a burocracia atingiu níveis nunca antes vistos. Call, fold, fold, fold, call, limp, call, fold.

Seus adversários foram caindo um a um, como lustres caem em uma casa não aprovada por um designer de interiores.

A certa altura, Arthur aumenta um big blind. Fizão paga e Mauro, com 6 e 3 off, paga também. O flop mostra um interessantíssimo 2, um 4 e um 5. Mauro aposta 600 cebeletas (bordôô!), Arthur dá all-in com KK, Fizão da all-in com QT (?!) e Mauro janta os dois.

Até então, tudo corria bem para a revolução teológica do poker, não fosse um finlandês sortudo ao lado de Mauro. Esse representante da Igreja Rabugenta poderia estragar tudo com suas cartas precisas que viravam em todo river.

Quando faltavam três jogadores, Mauro, com A8, paga um all-in de Joes com AK. Acaba virando um 8.

Na final, a dupla Retranqueiro & Burocrata se encontram. Com mais uma sequência sobre um KK, Mauro vence, despacha o rabugentismo politeísta e inicia uma nova era no poker: a Era da Fanfarra.

Mauro, desde então, nunca mais perdeu o poker semanal, se tornou líder isolado por 40 anos (245 títulos e 16 vices), até morrer, sozinho, em Genebra.

Extraído de Tratado de Poker Científico.

Bola cheia: Beets apostando sua bordô no começo e amedrontando todos.

Bola murcha: Beets perdendo sua bordô no começo.

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